sexta-feira, 1 de janeiro de 2010



O QUE OS TEÓRICOS FALAM SOBRE OS BEBÊS?


A grande maioria das profissionais envolvidas com as turmas de Berçário reclama da pouca fundamentação teórica existente, das poucas atividades e possibilidades de brincadeiras para realizar no dia-a-dia da creche. Nos últimos anos tivemos muitas contribuições nos estudos à cerca dessa faixa etária, mas é possível encontrarmos muito a respeito do que fazer com bebês em três grandes teóricos: Piaget, Vygotsky e Wallon.
Então o que dizem os teóricos sobre a faixa etária de 0 à 2 anos? Para essa resposta vou me basear principalmente nas anotações que realizei durante a segunda formação continuada das turmas de Berçário da cidade de Esteio/RS realizada no ano de 2008.
Começo essa fundamentação teórica sobre o trabalho com bebês com o estudioso Henri Wallon (1872-1962). Para Wallon a emoção é o principal mediador das relações da criança com o meio e ela se desenvolve pelo conflito. Na teoria de Wallon (apud GALVÃO, p. 60) o bebê pouco a pouco vai estabelecendo um contato mais intimo com o que o cerca, dando correspondência a seus atos, passando também pelos estágios de desenvolvimento que são diferenciados e caracterizados por necessidades e interesses específicos da criança.
No estágio impulsivo-emocional, o bebê reage às sensações através de descargas musculares e movimentos descordenados. Quando esses movimentos despertados pelas sensações vão sendo identificados pelos adultos é que o bebê começa a se desenvolver, há um elo de comunicação do bebê com o meio, constituindo novas formas de pensamento. Por isso, a importância na qualidade das interações que são oferecidas aos bebês.
Ainda na faixa etária de 0 à 2 anos, temos o estágio sensório-motor em que acontece a manipulação de objetos através da boca e isso por que, na verdade, a boca se constitui como o único local que possui movimentos coordenados. Enquanto leva os objetos à boca o bebê também começa a coordenar os movimentos das mãos e dos braços. Essa manipulação de objetos vai ser facilitada pela marcha (primeiros passos) e pelo inicio da fala.
Wallon também fala sobre a importância da criança se apropriar do espaço em que está inserida e de como o espaço infantil (no nosso caso a escola, a sala de aula) deve ser para a criança um campo de atividades que vão sendo ampliadas. Assim, “os aspectos físicos do espaço, as pessoas próximas, a linguagem e os conhecimentos próprios a cada cultura formam o contexto do desenvolvimento (GALVÂO, 1995, p. 39). Antes de trazer um pouco do estudo de Vygotsky (1897-1934), penso ser importante mencionar que o interesse dele no estudo da infância, se deve ao fato de querer comprovar que o desenvolvimento é socialmente constituído.
Para esse teórico, “desde os primeiros dias do desenvolvimento da criança, suas atividades adquirem um significado próprio num sistema de comportamento social [...]” (VYGOTSKY, 1984, p. 33). Ele justifica assim, a importância da interação do adulto com a criança, levando-a a significar culturalmente o meio em que está inserido, sempre se desenvolvendo através das mediações e interações do outro.
Vigotsky trás na sua teoria o conceito de zona de desenvolvimento real que se caracteriza pelas etapas já alcançadas pela criança, sendo aquilo que ela já sabe e a partir disso, nos chama a atenção para trabalharmos na zona de desenvolvimento proximal ou potencial da criança, definindo esse conceito como as funções que ainda não foram alcançadas ou que são realizadas com a ajuda do outro.
Justifica-se aí a intencionalidade das salas com desafios planejados, criados de acordo com a zona de desenvolvimento real dos bebês, mas com vistas para o que ainda poderão alcançar e amadurecer. É na zona de desenvolvimento proximal que deve ocorrer a intervenção pedagógica e as interações do bebê com o educador e com o ambiente.
Vygotsky acredita no desenvolvimento da aprendizagem através da interação e da imitação. Para esse pesquisador, ” imitar não é uma mera cópia do modelo, mas uma reconstrução individual do que é observado nos outros”(OLIVEIRA, 1993, p. 63). A imitação aparece como uma possibilidade de se reconstruir o que se percebe externamente. Assim, a imitação se relaciona com o processo de desenvolvimento proximal quando, por exemplo, um bebê (após constante interação com o adulto cuidador) imita seus atos, ou os chamados jogos gestuais (dar beijinho, fazer careta, barulhos com a boca). A imitação permite à criança que ela supere suas capacidades, porém ela avança só o que lhe permite seu nível de desenvolvimento, possibilitando compreender o outro e o ambiente.
O último teórico que trago é Jean Piaget (1896-1980), que no trabalho a ser realizado com bebês fala sobre o estágio sensório-motor que ocorre mais ou menos do zero aos 2 anos. Nesse estágio as percepções são marcadas não pela representação do objeto, mas sim sobre a ação direta da criança sobre ele. As interações que ocorrem entre o bebê e um objeto é uma maneira de explorar, tentar conhecer, comparar com outros esquemas já conhecidos também através da manipulação.
Piaget também trás alguns conceitos que devem ser colocados como intencionalidades ou habilidades a serem desenvolvidas com bebês. A noção de objeto permanente, ou seja, o bebê não está convencido de que quando um objeto desaparece diante dele, pode encontrá-lo de novo. São as interações, brincadeiras (lembram da brincadeira do paninho?) e conversas que o ajudarão a ter essa percepção.
É também no estágio sensório motor que temos a possibilidade do começo do trabalho com as idéias de espaço (materiais e corporais), tempo (duração e sucessão de eventos), causalidade (relação que une a causa a seu efeito – apagar e desligar a luz é uma ótima descoberta!) e de reversibilidade (tem a possibilidade de retornar).
Sabendo dessas teorias, e trazendo-as para dentro do espaço da sala de aula através de ações, materiais e interações, estaremos contemplando o bebê enquanto aluno e enquanto sujeito ativo do seu conhecimento.


 Não esqueçam: Ao copiar mantenham os créditos!
Esse texto é parte do meu TCC.

4 comentários:

Josi Sant´Anna disse...

Prô...
Você é D+...
Beijinhos da Josi

janice disse...

Que saudade dos nossos estudos! Acho que vamos demorar para ter outra oportunidade de formaçao com tanto estudo. bjs

Angela disse...

Este seu texto está fantástico. Por favor, PARTILHE!!!! mais dos seus estudos connosco! :)

Adorei o Blogue.
Os materiais que usam nas vossas salas e a forma como estão organizados revela forte intencionalidade educativa apesar da sua "aparente" simplicidade.

Aqui em Portugal, do outro lado do oceano, eu e a minha Bebé seguiremos-vos com muita atenção!
Um abraço para todos,
Angela e Bebé

(se tiverem tempo; venham conhecer-nos na galaxiainfância.blogspot.com)

Tati disse...

Amo o blog, trabalho com berçário e partilho das mesmas angústia e da busca por novidades e desafios para meus bebês. Gostaria de fazer minha monografia em cima do tema "A relevância do uso de temas em turmas de berçário I", e peço autorização para usar como base alguns de seus textos, que são excelentes. BJs e continue nos iluminando!